Segue a tradução de um discurso do Professor Rival, em 1849, cerca de sete anos antes de iniciar seus estudos espíritas, no qual ela fala da caridade cristã e do caminho da perfeição evangélica. Anexamos no final desse texto as imagens dos originais da tradução que segue, que hoje estão disponibilizados no site do projeto Allan Kardec da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Tradução
Allan Kardec
Da [...] dos prêmios de 1849
Minhas queridas crianças,
Até agora, em circunstância parecida, dirigi-me principalmente a seus pais, a
quem fiz questão de expor nossa visão sobre a educação de vocês; ainda que esse vasto assunto esteja longe de se esgotar, nosso sistema é atualmente bastante conhecido, não sendo preciso dar novos esclarecimentos a seu respeito. Eu me propus, este ano, a fazer-lhes as honras exclusivas do meu pequeno discurso nesta ocasião e aproveitar para dar-lhes alguns conselhos salutares. Vocês sabem que gosto de palestrar e ficaria muito triste de perder esta oportunidade. Vocês ouvem tão bem os conselhos, aproveitam-nos tão em que é um prazer oferecê-los a vocês. Mas, para não assustá-los de antemão, aviso que não vou me alongar muito.
Talvez creem que vou falar do trabalho, das vantagens do estudo; não, isso
seria pregar para convertidos; seu zelo, sua aplicação, sua assiduidade, vocês o sabem, nunca deixam a desejar; se falasse dos benefícios do ensino, da influência que ele pode ter na vida, eu não lhes ensinaria nada que nós já não saibamos, que vocês não compreendam perfeitamente e, sobretudo, que já não coloquem em prática.
Não pensem, pelo menos, que se trate de um epigrama; eu tomaria cuidado
com isso; vocês sabem que sou incapaz de zombar de vocês.
Sobre o que, então, eu lhes falarei? Do caráter? Pergunto: vocês precisam
disso? É necessário pregar sobre a desobediência, a gula, a polidez? Ou sobre aquele outro defeito que, eufemisticamente, e para não utilizar termos mais expressivos, chamamos simplesmente de tagarelice? Não são vocês a
docilidade, a urbanidade [...] alguma vez lhes falta [...] conveniências?
Pois bem! [...] Não falarei de vocês, pois isso não é necessário; eu lhes falarei de outras pessoas, que vocês encontrarão frequentemente em seu mundo, das suas imperfeições ou dos seus ridículos, a fim de protegê-las contra a tentação de que possam ter de imitá-las. Se, algum dia, ao vê-las, pensarem: Deus! E se eu fosse assim? Então, observem-se bem e vejam se alguns raios dos ridículos delas não estão se refletindo em vocês.
Há pessoas perfeitamente honradas cuja probidade e honestidade são
testadas; porém, não sabem ser bem recebidas; há algo nelas que nos afasta; de onde vem isso? É que lhes falta a amabilidade que provoca a simpatia, o sentimento de benevolência que atrai os corações; elas podem ser boas, mas não suporíamos isto. A benevolência, a consideração e a amabilidade são qualidades sem as quais não se é amado. A benevolência, aliás, é-nos demandada pela caridade cristã, e ela não lhes faltará se sempre seguirem os conselhos e os exemplos dos dignos eclesiásticos que lhes mostram, com tanta bondade e paciência, o caminho da perfeição evangélica.
Qualquer pessoa que não seja benevolente é egoísta, e o egoísmo é o meio
mais infalível para ser odiado, e isso é muito natural. O que esperar de uma
pessoa egoísta? Nada; nenhum serviço, nenhuma complacência, ela acima de
tudo; se ela parece se compadecer da dor do outro, é apenas em palavras; ela oferece algum serviço quando sabe que nada é necessário; e se fosse para realizá-lo? Ela tem mil pretextos para dispensá-lo. Ela não ama ninguém; quer dizer, eu me engano: ela ama alguém, e muito, ela mesma.
O que acontece, então, é que ela não é amada por ninguém; é que ninguém
está disposto a compeli-la, porque cada um pensa que ela cuida o suficiente
dela mesma, isentando os outros de cuidarem dela.
Se eu [...] sobr...