"Você é o primeiro médico preto que eu vejo"

Histórias para ouvir lavando louça

19-09-2024 • 7 min

Você pode conhecer o Fred Nicácio do BBB 23, ou do Queer Eye Brasil, mas não provavelmente a história do garoto da periferia do interior do Rio, que se tornou médico e logo depois uma personalidade da mídia. Fred nasceu em uma família pobre, que vivia na periferia de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro. Mas sua origem humilde não significava que sua família não tinha letramento racial. Desde cedo, ele ouviu do pai que não seria tratado da mesma forma que os filhos brancos dos vizinhos. Esse ensinamento se tornou ainda mais latente quando Fred e sua família ascendem e vão morar no centro da cidade. Eles eram a única família preta daquela rua, da igreja e dos ambientes sociais que frequentavam. Se o racismo era uma pauta dentro de casa, para driblá-lo Fred e seus irmãos foram ensinados pelos pais a estudar. Logo após concluir o Ensino Médio, Fred entra para a faculdade de fisioterapia e se forma. Trabalhando na UTI de um hospital, ele se encanta pela medicina e como essa profissão pode salvar vidas. Quando comentou com uma colega de trabalho que ficou muito animado com um procedimento que um médico fez, ela desdenhou dele: "Isso é só para um doutor". Fred sentiu o olhar de desprezo da colega e sabe que se ele fosse um homem branco, ela o incentivaria a se formar nessa profissão. Mas com incentivo ou não, ele sabia o que queria e anos depois se formou em medicina e foi trabalhar em um hospital público em outra cidade do interior do Rio. Foi nesse hospital que sua vida se transformou por completo. Em um atendimento de plantão pediátrico, Fred recebe dona Eunice, de 74 anos, e seu neto, de 9. Ele notou que a senhora não parava de olhar para ele durante toda a consulta, mas seguiu o atendimento com o neto dela. No final da consulta, ela pergunta se poderia tirar um retrato com Fred. Nos mais de 70 anos de dona Eunice, ela nunca havia sido atendida por um médico preto, como ela. Além da foto, ela pediu para ele publicar a foto na internet porque outra neta dela tinha acesso à internet também. Quando Fred publicou, não imaginava que essa foto fosse mudar tudo. A publicação viralizou, foi parar em jornais, ele foi convidado a dar entrevistas... e virou o Fred Nicácio que conhecemos hoje nas redes e dos programas de TV, como Queer Eye e Big Brother Brasil. A representatividade que ele tinha ali naquele hospital no interior do Rio de Janeiro foi potencializada após seu encontro com dona Eunice. Tudo porque ela pediu para postar nas redes aquele encontrou que mudou não só a vida do Fred, mas da Eunice também. Hoje Fred sabe da importância de ter um homem preto, gay, macumbeiro e fashionista com visibilidade nas redes, na TV ou onde for. Para que mais Eunices não precisem esperar até seus 70 anos para se sentirem representadas. Compre o livro do ter.a.pia "A história do outro muda a gente" e se emocione com as histórias: https://amzn.to/3CGZkc5 Tenha acesso a histórias e conteúdos exclusivos do canal, seja um apoiador http://apoia.se/historiasdeterapia