Bolsonaro e o octógono do golpe

O Assunto

20-06-2022 • 29 min

Em 2018, as urnas deram vitória ao candidato que se apresentou como “outsider”. Alojado no então nanico PSL, Jair Bolsonaro prometia governar contra toda a política tradicional. Quatro anos depois, concorre à reeleição pelo notório PL, mas mantém o discurso antissistema. “Ele tenta convencer sua base de que, mesmo com o Centrão, segue lutando”, afirma Marcos Nobre, autor do livro “Limites da Democracia”, recém-lançado pela editora Todavia. Para o núcleo duro de seu eleitorado, “deu certo”, resume o professor de filosofia da Unicamp, também presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Em conversa com Renata Lo Prete, ele recupera uma linha do tempo que começa nos protestos de junho de 2013, passa pela Operação Lava Jato e chega à ascensão do “partido digital bolsonarista”. Nobre descreve uma tempestade perfeita em que se misturam radicalismo, relação umbilical com as Forças Armadas e Centrão no comando do Orçamento secreto. “Bolsonaro joga um jogo muito diferente daquele jogado pelas forças democráticas” diz, ressaltando que isso tende a se prolongar para além de outubro: “Para ele, ganhar eleição não é objetivo, mas instrumento”. Diante daquilo que descreve como iminente “caos social duradouro”, Marcos aponta que apenas a união dos mais diferentes setores pode se contrapor a “todas as possibilidades de golpe” que estão no horizonte. “É um momento sem volta: ou daremos um salto democrático, ou perderemos a democracia”.