Na psicanálise, a família é compreendida como o primeiro núcleo estruturante e socializador da criança; entidade fundamental para alicerçar as bases identitárias do indivíduo.
Assim, o inconsciente do infante se configura na família e em sua complexa e delicada rede de tramas geracionais e inúmeras determinações inconscientes, colocadas não só pelos genitores, mas também pelos pais e avós de cada um destes.
Como isso, a maternidade e a paternidade não dependem do ato biológico de tornar-se pai ou mãe, mas de ocupar esses lugares e papéis simbólicos para uma criança, colocando-a no lugar de filho. Não fosse dessa forma, as adoções de crianças seriam impossíveis.
Em casos de família monoparental, onde apenas um dos membros, em geral a mulher, do casal parental está presente, ambas as funções podem estar presentes no mesmo sujeito, ou até mesmo, a função paterna pode estar referenciada a um terceiro, para além da relação do sujeito infante com a mãe.
Frisa-se que os discursos preconceituosos/de ódio reforçam discursos e práticas violentas. Mesmo entre analistas tais discursos podem ser observados. Nesse sentido, retomando-se Quinet, reforça-se “O psicanalista não pode ser preconceituoso e deixar-se contaminar pela moral, religião ou discurso da ciência que foraclui o sujeito.
A psicanálise é antirracista, pois admite que o estrangeiro habita o âmago de cada um e o diferente (heteros) é parte de si. Cabe ao analista fazer entrar a consideração pelo gozo do sinthoma, com sua singularidade, no discurso de sua polis. E no espaço público e no privado, trazer a política que sua prática ensina”.
Thiago é psicólogo com percurso psicanalítico, coordenador de serviço de atenção à famílias em situação de violência e risco social em Campinas, Professor universitário. Mestre pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, e doutorando pela Faculdade de Saúde Pública da USP.