O mistério da Covid na Coreia do Norte

O Assunto

03-06-2022 • 20 min

De março de 2020 até maio de 2022, enquanto o mundo acumulava mais de 6 milhões de mortos pela doença, o país não teve nem sequer um caso. Ou assim dizia o regime de Kim Jong-un, cujas estatísticas os organismos internacionais jamais puderam verificar. No entanto, desde um suposto “paciente zero”, anunciado há cerca de 20 dias, foram registrados casos de uma “febre misteriosa” em mais de 10% dos 25 milhões de norte-coreanos, e a comunicação estatal assumiu que a pandemia havia invadido as quase intransponíveis fronteiras da ditadura. Os óbitos, porém, não passariam de 70. O repórter da TV Globo Álvaro Pereira Júnior faz as contas: pelos dados oficiais, a taxa de mortalidade seria de 0,002%, um desempenho 65 vezes melhor que o da vizinha Coreia do Sul, “modelo no combate à Covid”. Em conversa com Renata Lo Prete, o jornalista, que estuda Coreia do Norte há 15 anos e foi dos poucos brasileiros a realizar reportagens no país, discute os motivos que teriam levado Kim Jong-un a decretar emergência de saúde pública e lockdown total, ao mesmo tempo recusando qualquer tipo de ajuda internacional, inclusive da parceira China. Isso tudo para depois afirmar, em nova reviravolta, que o surto já foi controlado. Embora “ninguém consiga entender bem”, as hipóteses mais aceitas são “medo de sabotagem” ou de “admitir fraqueza”. Álvaro comenta ainda os riscos para a população da “Coreia do Norte real”, que vive sob as mais precárias condições alimentares e sanitárias. Apesar disso, diz ele, “não há a menor possibilidade desta pandemia desestabilizar o regime”.