Entre o final de abril e o começo de maio de 2024, chuvas ininterruptas transformaram-se em violentas águas barrentas. As águas invadiram moradias e, em muitos casos, atingiram a altura dos telhados das casas em várias regiões do Rio Grande do Sul. Em poucos dias cidades foram devastadas e o número de refugiados ambientais tornou-se assustador. O cenário é descrito como o de guerra: faltam água potável e energia elétrica, há escassez de mantimentos, os hospitais estão lotados e o número de mortos e desaparecidos é crescente.
O desastre ambiental que vivenciamos evidenciou o despreparo estrutural das cidades diante de variações climáticas extremas.
Apesar dos alertas constantes de cientistas na área ambiental, as autoridades governamentais e parlamentares, em sua maioria, negligenciaram as medidas necessárias para lidar com os eventos climáticos severos. Esses eventos, infelizmente, irão se repetir.
A tragédia funda um tempo de dor. O trabalho de reconstrução que virá pela frente demandará tempo e envolvimento de muitos corpos e mentes. Será necessário que esse primeiro tempo, da dor extrema, possa, em um segundo tempo, encontrar simbolização e representação. Assim, as experiências traumáticas poderão ser contidas por um continente.
Nesse tempo incerto e instável o que está ao alcance do trabalho psicanalítico? O que é possível diante de mudanças catastróficas?
Para conversar conosco sobre esse tema emergencial convidamos o biólogo e professor Paulo Brack e a psicanalista Maria Luíza Gastal.