Mirante

Observatório Psicanalítico

Este é o MIRANTE, um podcast para ouvir psicanalistas e pensadores de outros campos debatendo temas relevantes no nosso cotidiano contemporâneo. O MIRANTE é do Observatório Psicanalítico e pertence à Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi). Venha conosco nessa viagem de olhar o mundo a partir do mirante da psicanálise! read less
Sociedade e culturaSociedade e cultura

Episódios

Envelhecer nas cidades
01-09-2024
Envelhecer nas cidades
Embora o aumento da população idosa seja uma realidade perceptível em todo o mundo, com um aumento expressivo na expectativa de vida, há uma contradição: ao mesmo tempo em que a população envelhece, há um culto para que se mantenha jovem a qualquer custo. Neste contexto, a passagem do tempo pode ser vivida de forma dramática, pois fica atrelada às inúmeras perdas inerentes ao envelhecer. Lutos são feitos no decorrer do envelhecimento, tanto físicos quanto psíquicos, que demandam aos ditos “velhos”, reelaborar a própria história. Pensar a velhice, portanto, requer falar de corpo, temporalidade e finitude. Em “A nova ciência da longevidade”, a gerontóloga Rose Anne Kenny, por meio de suas pesquisas, preconiza variáveis que favorecem uma longevidade sadia. São elas: a amizade, o alívio do estresse, o riso, garantir a qualidade do sono, boa alimentação, atividade física, ter um propósito de vida e uma atitude positiva diante dela. Quanto mais cedo abordarmos esses fatores de risco que influenciam o processo de envelhecimento mais reservas poderemos acumular quanto à capacidade do corpo e do cérebro, e maior a probabilidade de retardar os efeitos deletérios desse processo, conforme a especialista. Sabemos, no entanto, que no Brasil nem todas as pessoas consideradas idosas tem essa possibilidade, e isso passa por fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que podem tolher as possibilidades para os idosos. Se as pessoas envelhecem, também envelhecem as cidades, e este desafio é travado em conjunto no espaço urbano. Ambos constroem histórias, deixam registros sobre a passagem do tempo e deixam legados. Um dos grandes desafios é manter a sociabilidade, e para isso são necessárias condições que viabilizem a presença e a inclusão de idosos no espaço urbano. No entanto, sabemos que essas possibilidades de circulação e ocupação dos espaços acabam sendo limitadas em boa parte das cidades brasileiras. O que desejam as pessoas mais velhas que buscam análise pela primeira vez, depois de se aposentarem ou mesmo após terem realizado grande parte dos projetos que movem um ser humano na vida? O que buscam os analistas que se dedicam a esse contingente de pacientes idosos? E o que buscam para si analistas que nunca se aposentam? As cidades de hoje ofereceriam essas possibilidades de vida saudável para todos? As cidades oferecem redes de sociabilidade para aquelas pessoas que não tem família, vivem só? A psicanalista Beth Mori da FEBRAPSI conversa sobre o tema “Envelhecer nas cidades” com a escritora Rosiska Darcy de Oliveira e a psicanalista Cibele Brandão
Diversidade na Polis: Sexual e Gênero, hoje
10-08-2024
Diversidade na Polis: Sexual e Gênero, hoje
A psicanálise tem se colocado como uma obra aberta aos discursos de nossa época? A produção de Judith Butler e Paul Beatriz Preciado são referências atuais nos estudos sobre o sexual. A crítica que fazem é direcionada ao regime binário da diferença sexual e o privilégio da universalidade em um mundo patriarco-colonial. O projeto freudiano procurou uma matriz universal que desse conta do psiquismo humano, independentemente da cultura em que se constitui, por meio de categorias e conceitos. A universalidade de suas ideias pode ter contribuído para uma patologização dos corpos. Diante de mudanças profundas nas relações, a epistemologia do regime da diferença sexual em dois sexos e hierárquicos com o qual a psicanálise trabalha entrou em crise. Como fazer para manter a psicanálise trabalhando, saindo de eventuais posturas de um modo hostil de fazer ciência que aprendemos como absolutas e universais? Para conversar sobre “Diversidade na Polis: Sexual e gênero, hoje”, Beth Mori conversa com Gui Teixeira e Rodrigo Lage. Gui Teixeira é comunicadora e designer, formada em Diversidade nas Organizações pela Escola Aberje de Comunicação e atua na área de comunicação da consultoria Mais Diversidade. Se considera não binária e utiliza pronomes ela/dela. Rodrigo Lage é psicanalista, membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Psiquiatra e mestre em ciências pelo Instituto de Psiquiatria da USP.
A criança e as cidades contemporâneas
13-07-2024
A criança e as cidades contemporâneas
A psicanálise considera que o infantil não abandona o adulto: nossos amores e ódios, medos, saudades, fantasias e desejos têm raízes na criança que fomos. Levando em conta a criação freudiana de que a personalidade se forma a partir das fases pelas quais passa a sexualidade infantil, Jean Laplanche estuda o modo como os adultos interferem nesse desenvolvimento e traz a ideia da situação antropológica fundamental, onde há uma assimetria entre adulto e criança, o adulto implantando, a partir da sua sexualidade inconsciente, o sexual no incipiente aparelho psíquico da criança. Entre outras questões que nos impactam atualmente, a infância tem sido muito afetada pela hiperconectividade. No livro “A geração ansiosa”, o psicólogo americano Jonathan Haidt defende que a “infância baseada no brincar” foi substituída por uma “infância baseada no celular”, o que tem gerado inúmeras dificuldades emocionais, entre elas ansiedade, nos jovens da atualidade. Atentos a essa questão, existem movimentos que buscam combater o uso excessivo de celulares por crianças e adolescentes. Interpeladas pela sedução tecnológica das telas e redes sociais virtuais, há no atual contexto nas cidades condições de acolhimento para o lúdico, para o desenvolvimento da criatividade, para as brincadeiras com outras crianças? Como considerar a polis contemporânea nas relações entre adultos e crianças e do lugar dado ao infantil? Para conversar conosco sobre a criança nas cidades atuais, convidamos o pedagogo Paulo Focchi e a psicanalista Marina Bilenky.
A poética das cidades
18-06-2024
A poética das cidades
Para além do caos e da violência intrínsecas ao asfalto, às paredes, aos muros, há espaços e manifestações nas ruas que escapam do concreto e convidam os olhos a criarem pontes entre o mundo externo e a psiquê, capturando a imaginação e retirando os moradores da dureza e saturação cotidianas. A Psicanálise, desde seus primórdios, interessa-se pelos limites entre o “dentro e o fora”. Conceitos como “mundo interno” e “realidade psíquica” mostram que o sujeito, em constante interação com o entorno, olha e interpreta a realidade externa a partir de sua subjetividade. Freud se ocupou, por exemplo, de pensar nos mecanismos da cegueira psicogênica: quais motivos inconscientes levavam uma pessoa com a visão intacta (do ponto de vista orgânico) a deixar de enxergar? As interdições neuróticas ligadas à própria sexualidade podem ser fortes o suficiente para extinguir a visão. Nesse sentido, o que se vê na pólis pode abrir caminhos para o desejo: arranjos, sons, imagens, cenas espontâneas ou intervenções pessoais e intencionais como pichações, grafites, performances e obras de arte das mais variadas naturezas que, o serem expostas nas ruas, têm função estética e política: provocam mudanças. A esperança, assim, mora no fato de que os muros, símbolo das resistências, subversivamente, sempre receberão inscrições artísticas e trarão novas aberturas. Se a palavra, representante da alteridade, puder tocar aquele que passa, abre-se um campo poético que permite novas construções de sentidos, novas narrativas e reparações. Dentro da série “O sexual na pólis”, para falar conosco nesse episódio que se propõe a investigar “A poética das cidades” convidamos o artista Cauê Maia e o psicanalista Ricardo Trinca que, cada um à sua maneira, têm contribuído para a construção da poética em suas cidades.
Eros, o saber e a política
31-05-2024
Eros, o saber e a política
No texto “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905) Freud nos apresenta a pulsão epistemofílica. Ali, ele sugere que o primeiro problema com o qual a ânsia de saber se esbarra é a pergunta: “de onde vêm os bebês?”. Esse questionamento expressa um receio do infante de que um novo bebê origine uma perda de cuidados e de amor.   Há uma força, uma pressão, que mobiliza os seres humanos a querer saber sobre si e sobre o mundo. De onde vem, afinal, esse desejo de saber que estimula, aquece, e que é capaz de gerar tantas ações?   A ideia de ciência surge como resposta frente aos problemas e dificuldades que enfrentamos. Promete emancipação individual e coletiva, progressos e melhoria de vida. Contudo, com o advento da bomba atômica, dos mísseis de guerra e das câmaras de gás para extermínio de seres humanos, a narrativa de que a ciência viria apenas para o bem da humanidade é questionada. A ciência, afinal de contas, é uma produção humana e, como tal, pode ser usada para a destrutividade.   A busca do conhecimento científico passou, gradualmente, a ser substituída por especulações conduzidas por algoritmos que apenas reafirmam crenças individuais. A opinião pública, tão importante para a cobrança de políticas públicas que gerem mudanças, paulatinamente se distanciou da ciência. Especialistas, por vezes, passaram a ser colocados para escanteio.   A distopia 1984, de George Orwell, em que há um “Grande Irmão” que determina o que é verdade, tornou-se um a realidade.   O que fazer para que o discurso o científico volte a se comunicar ativamente com a população e, consequentemente, com o poder público? Como retomar o diálogo entre ciência e política? Como fazer com que as pessoas se interessem mais sobre o mundo do conhecimento?   Para conversar conosco sobre esse tema convidamos a matemática, filósofa e historiadora Tatiana Roque e o psicanalista Miguel Calmon.
As cidades no tempo da dor das mudanças climáticas catastróficas
14-05-2024
As cidades no tempo da dor das mudanças climáticas catastróficas
Entre o final de abril e o começo de maio de 2024, chuvas ininterruptas transformaram-se em violentas águas barrentas. As águas invadiram moradias e, em muitos casos, atingiram a altura dos telhados das casas em várias regiões do Rio Grande do Sul. Em poucos dias cidades foram devastadas e o número de refugiados ambientais tornou-se assustador. O cenário é descrito como o de guerra: faltam água potável e energia elétrica, há escassez de mantimentos, os hospitais estão lotados e o número de mortos e desaparecidos é crescente.   O desastre ambiental que vivenciamos evidenciou o despreparo estrutural das cidades diante de variações climáticas extremas.   Apesar dos alertas constantes de cientistas na área ambiental, as autoridades governamentais e parlamentares, em sua maioria, negligenciaram as medidas necessárias para lidar com os eventos climáticos severos. Esses eventos, infelizmente, irão se repetir.   A tragédia funda um tempo de dor. O trabalho de reconstrução que virá pela frente demandará tempo e envolvimento de muitos corpos e mentes. Será necessário que esse primeiro tempo, da dor extrema, possa, em um segundo tempo, encontrar simbolização e representação. Assim, as experiências traumáticas poderão ser contidas por um continente.   Nesse tempo incerto e instável o que está ao alcance do trabalho psicanalítico? O que é possível diante de mudanças catastróficas?   Para conversar conosco sobre esse tema emergencial convidamos o biólogo e professor Paulo Brack e a psicanalista Maria Luíza Gastal.
Sonhos na contemporaneidade: entre a neurociência e a psicanálise
17-03-2024
Sonhos na contemporaneidade: entre a neurociência e a psicanálise
Na aurora do século XX, Freud publica “A interpretação dos sonhos”, livro que também representa a entrada da psicanálise na cultura moderna, um marcador da ruptura com o século XIX, constituindo um novo futuro sobre a compreensão da vida mental humana. O significado dos sonhos sempre intrigou a humanidade, ao passo que foi descredenciado ou combatido em determinadas épocas e culturas. Freud criticou a posição médica vigente de seus contemporâneos, evidenciando a rigidez científica que impossibilitava alcançar o significado psicológico de um sonho. E constatou, com assombro, “que a visão dos sonhos que mais se aproximava da verdade era a não médica, mas a popular.”   Freud concluiu que o sonho é uma realização de desejo.   Um sonho nos leva a um espaço tão íntimo que conduz à seara do inconfessável, algo muitas vezes contraditório diante da imagem que a pessoa tem de si.     No entanto, culturas que preservam interpretações milenares podem ter uma visão diferente dos sonhos e sua relação com os desejos.   Diante disso, nos questionamos: atualmente, como vivenciamos os sonhos? Quais as funções do sono e dos sonhos? Diante dos avisos de culturas ancestrais acerca da “Queda do céu” é urgente reaprendermos a sonhar?  Os sonhos continuam a ser nossos oráculos, a nossa via régia?   Para conversar conosco sobre os sonhos na contemporaneidade convidamos o neurocientista Sidarta Ribeiro e o psicanalista Pedro Coli.
O leite, a comida e a sexualidade
11-08-2023
O leite, a comida e a sexualidade
Estamos acostumados a pensar que o bebê humano, diferentemente dos filhotes de outras espécies, é completamente dependente do outro.   Freud, já em 1885, no “Projeto para uma psicologia científica, entendia que quando as necessidades corporais exigem satisfação, o bebê com fome grita e esperneia. No entanto, esses movimentos não o saciam. É a ação de cuidado do outro que o assiste, e portanto, que permitirá que a experiência de satisfação aconteça, pondo fim às estimulações internas que provém das necessidades.   O seio da mãe é oferecido não apenas com o intuito de nutrição, mas de apaziguamento das tensões, minimizando as sensações de desconforto que o ego incipiente do bebê não pode ainda sustentar. Neste sentido, para a psicanálise, a relação com o seio é ampla e complexa.   Nos “Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), Freud assinala que a pessoa que se ocupa dos primeiros cuidados do bebê - "que geralmente é a mãe - dedica-lhe sentimentos que se originam de sua própria vida sexual: acaricia, beija e embala a criança, claramente a toma como substituto de um objeto sexual completo".   É a partir dessa experiência com o corpo do outro, que a pulsão sexual é despertada no bebê, deixando marcas e criando possibilidades desejantes. Dessas marcas, principalmente a partir da retirada do seio e de alguma separação em relação à mãe, observaremos os mais diferentes destinos pulsionais que se expressam na vida humana. Seriam os filhotes de outras espécies realmente menos desamparados que os nossos? E ainda, como psicanalistas, que aspectos da nossa sexualidade estariam postos nesta relação política que travamos com as fêmeas de outras espécies? Para nos ajudar a pensar sobre o sexual na Polis convidamos a artista Cecília Cavalieri e a psicanalista Luciana Saddi.